Frequentemente vêm ao meu consultório, pacientes em busca de fórmulas mágicas ou então em busca de vitaminas ou, mais do que isso e até em resumo dessas preocupações, algo que os faça deixar de envelhecer. O famoso anti-envelhecimento ou como se diz em inglês, o “anti aging”, ainda está longe de ser uma realidade.

Nesse sentido, posso dizer com tranquilidade que, as pessoas que pregam estes tratamentos acabam sendo ou mal informados ou (infelizmente) mal intencionados. Inclusive, as mesmas pessoas que advogam estas condutas estão curiosamente envelhecendo (como todas as outras pessoas que existem no planeta). Explicado isso, preconizo aos meus pacientes, nunca o ainda inexistente anti-envelhecimento mas, o envelhecimento saudável.

O envelhecimento saudável baseia-se em cinco pilares, cada um deles, seria tema de longas discussões e frequentemente, inúmeras aulas mas, de uma forma objetiva: Dieta saudável; Atividade física regular; Inserção social; Saúde emocional; Controle de doenças. Esses mesmos tópicos acabam por apresentar muitas intersecções mas no final estão relacionados ao mesmo conceito: hábitos de vida saudável. Ainda mais além, relaciona-se ao conceito evolucionista de viver mais como nossos antepassados. Raciocinando-se dessa forma evolucionista, discorro sobre cada um desses “pilares da saúde”.

Em relação a alimentação nossos antepassados, foram selecionados evolutivamente devido a fatores alimentares. Isso consiste de forma objetiva em uma alimentação de quantidade suficiente (entendam sem exageros) visto que não havia nem uma abundância de alimentos disponíveis e, consequentemente não havia essa epidemia de obesidade. Outro ponto em relação a alimentação refere-se a qualidade dos alimentos. Nesse sentido, apesar de não se poder dizer que nossos antepassados tivessem uma alimentação saudável, pode-se afirmar que se tivesse uma dieta baseada em alimentos naturais ao contrário da abundância de produtos industrializados que ingerimos hoje. Passar mais tempo na feira e menos no supermercado e comer apenas o necessário. Essa seria uma boa forma de adaptar esses conceitos.

Quanto a atividade física regular, o raciocínio evolutivo é semelhante. Nossa genética, também foi selecionada baseada na atividade física, da qual dependia a caça, a agricultura e consequentemente toda a possibilidade de se alimentar e por assim dizer, toda a possibilidade de sobreviver e perpetuar a espécie. Hoje, as recomendações das sociedades médicas preconizam um período de atividades físicas de intesidade moderada por 30minutos 5 vezes por semana ou atividades de alta intensidade por 20 minutos 3 vezes por semana. Para não me extender muito mais num assunto que seria tema de muitas aulas e discussões infindáveis, ressalto que esses períodos referem-se a atividades aeróbicas, também se faz importante os exercícios de fortalecimento muscular e na faixa etária geriátrica, em especial, os exercícios de equilíbrio. Reforço ainda que, essa é uma recomendação mínima e, nesse sentido, atividades com carga e duração progressivamente maiores, desde que em ambiente seguro, apresentam benefícios progressivamente maiores.

A saúde emocional e a inserção social são conceitos frequentemente desprezados pela maior parte dos médicos. Nesse sentido, gostaria de propor a cada leitor, que faça o seguinte raciocínio: é normal o que estamos vivenciando hoje? É normal sair de casa todas as manhãs já sob uma carga de estresse, uma ou várias buzinadas e/ou xingamentos? É normal a cobrança pela qual o mundo moderno nos impõe com a exigência de tudo para ontem, ou as quantidades de tarefas e informações que se deve assimilar? Será que a nossa genética foi selecionada através desses mecanismos? E lembrem-se, o comum, não é o normal. Por isso se explica, sem a menor sombra de dúvidas, as altas taxas de distúrbios psiquiátricos que assolam a humanidade hoje em dia.

Posso dizer que, nesse momento, boa parte dos leitores está refletindo a respeito de seu estilo de vida e de suas rotinas e atividades diárias. Deixo para o final desta reflexão e, mais ainda, também como uma mensagem até para os meus colegas médicos, o quinto e último pilar, controle de doenças. Entendo que a maior parte dos médicos esteja habituada a apenas tratar das doenças quando estas já estão manifestas mas, quando estamos tratando, provavelmente é porque em boa parte das vezes, deixamos de prevenir e de atentar para os conceitos expostos nos parágrafos acima. Sabemos tratar e, com os avanços da medicina podemos tratar cada vez mais doenças. Somos treinados para isso exaustivamente e isso faz parte do conceito de envelhecimento saudável. Entretanto, adicionando aos cuidados medicamentosos os cuidados com os demais pilares, estaremos fazendo muito mais pela saúde da humanidade.

Preocupemo-nos todos, médicos e pacientes, com os cinco pilares do envelhecimento saudável. Médicos, orientem os pacientes! Pacientes, cobrem de seus médicos!

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