Podendo ser definida como um deslocamento súbito e não intencional para um plano inferior, as quedas são uma grande síndrome geriátrica e nessa faixa etária assumem uma importância enorme. Além do desfecho que pode se originar de uma queda, ela representa um importante marcador da fragilidade daquele idoso.

Nem todas as quedas resultam em lesões maiores. Mas deve-se raciocinar além da lesão direta. O trauma, pode resultar em complicações mecânicas, como uma fratura (a de fêmur é a mais temida) ou um hematoma, por exemplo. Uma simples queda, ainda que não cause complicações físicas maiores, pode e frequentemente resulta num trauma psicológico.

A população que mais cai não é a população idosa. Jovens caem mais e esportistas (dependendo do esporte que praticam) caem ainda mais. Entretanto, os jovens caem e se levantam. O idoso cai, as vezes se levanta e dependendo do resultado da queda, fica impossibilitado de se levantar. Aqueles que tiveram uma lesão menor e conseguem se levantar, frequentemente ficam com um trauma psicológico. Um medo de cair novamente. Isso leva a uma tendência a diminuir a sua deambulação e a uma maior imobilidade com tendência ao isolamento e a depressão. A imobilidade por sua vez, faz com que o idoso perca cada vez mais musculatura. A perda de musculatura proporciona uma marcha instável e uma maior chance de cair.

Como quebrar esse ciclo vicioso?

De várias formas e é aí que se faz importante a avaliação e acompanhamento por um geriatra. Em primeiro lugar, as causas dessas quedas devem ser investigadas e tratadas. Devem-se levar em consideração os fatores ambientais e fatores relacionados ao próprio paciente. O bom médico deve se preocupar com todos eles. Para cada fator de risco para quedas adicionado ou subtraído há um aumento ou diminuição (respectivamente) exponencial do risco daquele indivíduo cair. Além disso, deve ser feito todo um trabalho de reabilitação para que o idoso perca o medo de andar e volte a ter uma vida ativa.

São exemplos de fatores ambientais (os mais frequentemente negligenciados), a má iluminação, os tapetes que podem ser tanto escorregadios como estarem com as bordas levantadas e representarem um obstáculo, escadas e degraus mal sinalizados e pisos escorregadios.

São exemplos de fatores de risco intrínsecos ao paciente, podendo ser tratados em boa parte dos casos, o uso de certas medicações (principalmente as de efeito cardiocirculatório e neuropsiquiátrico), as tonturas (que são de difícil abordagem e tratamento e envolvem múltiplos diferenciais), a depressão, deficiências sensoriais (visão e audição), a incontinência urinária, doenças neurológicas como o Alzheimer e o Parkinson e a fraqueza muscular.

Pelos exemplos acima (que são apenas uma pequena parcela), fica clara a importância de uma avaliação e acompanhamento por um profissional. Mais do que ir a um geriatra após um ou mais episódios de queda, vá a um geriatra para prevenir quedas.

Dr. Paulo Camiz

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