Com o envelhecimento populacional aumenta muito o aparecimento das doenças relacionadas a esta fase da vida. Destaque para a doença de Alzheimer e as outras doenças que afetam a cognição (funções cerebrais). Essa é a principal causa de dependência entre as pessoas dessa faixa etária.

A partir desse ponto, cada vez menos se tem a possibilidade de deixar o paciente sozinho por uma série de riscos. Surge a necessidade de cuidados constantes e frequentemente 24 horas por dia.

Assumo que se não temos pessoas com essas condições na família, existem boas chances de tal situação atingir a todos os leitores. Não por desejar isso a alguém, mas é inegável que o envelhecimento e as doenças frequentemente relacionadas estão impactando cada vez.

A estatística é de que acima dos 85 anos cerca de 30 % da população tenha o diagnóstico de Alzheimer ou outra síndrome demencial.

Durante muito tempo, eu pensei que a melhor atitude, a mais humana, mais correta fosse manter o paciente em sua residência e contratar cuidadores. Vivi isso pessoalmente em relação ao meu avô e acompanhava de perto o sofrimento da maior acometida, a minha avó. Mudei minha opinião e explico o por quê. Não acho que não possa funcionar, mas simplesmente a lei, a qualificação e treinamento dos cuidadores no Brasil é totalmente contra essa modalidade de assistência.

Gostaria de citar alguns pontos. Manter o idoso que necessita de cuidados 24 horas em casa exige a contratação de, no mínimo, quatro profissionais. São quatro “estranhos” dentro de casa, que por mais honestos que sejam, mudam toda a rotina e alteram todo ambiente domiciliar. Mantendo-se dentro da lei, ou seja, registrando-os como funcionários domésticos, além de a conta ser muito cara para a grande maioria das famílias, surge um problema enorme quando se lida com faltas. Pelo motivo que for, faltas fazem com que a família precise ir atrás de alguém para fazer a cobertura com urgência. Frequentemente de uma hora para outra (e já com atraso) se recebe o aviso de que “hoje não poderei ir”. O familiar responsável fica muito estressado com isso.

Então se chega ao conceito de empresas de cuidados domiciliares. Escapa-se do problema das faltas (os demais tendem a persistir), mas saibam que isso faz com que a conta aumente para a família, visto que agora há um intermediário administrando isso. Outro problema, frequentemente, essas empresas (em sua grande maioria), não estão dentro da lei. Contratam os funcionários como autônomos quando eles deveriam ter carteira assinada, do contrário a conta seria mesmo exorbitante. Mas a empresa pode ir à falência diante do primeiro processo trabalhista e os custos recaírem sobre a família contratante. Sim. Isso pode acontecer! E a maior parte das famílias contratantes não sabe disso…

Entrando na dificuldade que existe em treinar profissionais dessa área, o nível educacional da nossa população não ajuda. Nesse aspecto, com as casas de repouso isso tende a ser mais fácil e “autofiscalizado”, devido à presença concomitante de diversos profissionais no mesmo ambiente e a possibilidade de normatização e aplicação de protocolos sob a orientação de uma liderança médica da área.

Surgem as perguntas: até que ponto vale à pena manter o idoso em casa? Não seria desumano colocá-lo numa instituição? Eu não estaria abandonando o meu familiar? Qual o custo de cada uma das situações? E como fica a lei diante de cada situação? Onde conseguir bons profissionais? O que os adeptos de cuidados domiciliares alegam são estes aspectos. Mas se esquecem que: sai, em geral, mais barato; maior chance de cumprimento da legislação; não altera a dinâmica da residência e dos que lá permanecem; pode e deve ser extremamente humano e confortável.

O fato é que a maioria, senão todas as perguntas ou declarações acima, tem origem no conceito que se constata em boa parte das casas de repouso no Brasil. O de não manter condições minimamente dignas de cuidado para o idoso. A Anvisa tem uma legislação clara e rigorosa em relação a casas de repouso. Estas vão desde o zoneamento da região onde fica a casa, que é o meu maior fator de discórdia pela exigência de ser feito numa zona mista ou comercial, até as medidas de cada item no mobiliário da casa. Porém, dificilmente são seguidas na íntegra. O resultado são as expressões, que não deveriam ser regra: desumano, abandono, maus tratos…

A saída para isto é clara. Ou surgem leis que viabilizem a situação dos cuidadores domiciliares e com isso possibilite minimamente a contratação da forma correta e dentro da lei sem um custo exorbitante, ou se exige que as casas de repouso existentes atendam o que está dentro das exigências.  De qualquer forma, o que é viável hoje é a segunda opção, visto que mesmo com um ajuste da legislação, não se exclui os outros pontos negativos dos cuidados domiciliares relatados acima. Façamos nossa parte e exijamos uma postura adequada em termos legais e de fiscalização das casas. Por todo o exposto, meu voto hoje é para as boas e, dentro da lei, casas de repouso. Mudei a opinião de algum leitor? A minha mudou!

11 respostas
  1. Portal Casas de Repouso
    Portal Casas de Repouso says:

    Olá, doutor.
    Realmente é uma questão de separar o joio do trigo.
    Existem casas sem estrutura e ruins sim, isso é fato, mas também existem casas com estrutura e qualidade na prestação de serviço. Eu visito várias casas por mês para avaliar a condição delas, muitas têm me surpreendido positivamente.

    Por isso é sempre importante conhecer o lugar e se possível falar com os moradores, filhos e clientes.

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  2. Graziely
    Graziely says:

    Aqui entram muitas questões, mas na minha opinião pessoal acredito que o cuidador seja o mais adequado. Em casa o idoso será acompanhado de perto pela família, irá compartilhar momentos junto com ela e isso faz muita diferença. Claro que são casos e casos, mas não gostaria de deixar meus pais em uma casa de repouso.

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  3. Helena knoll
    Helena knoll says:

    Gostei muito do artigo do Dr.a respeito do cuidado com o idoso.Eu e meu irmao cuidamos de nossa mae de 95 anos, sem nenhuma doença aparente, ape as teve sindrome consemptiva e ficanos com ela em casa e no hospital milotar onde ela acabou falecendo.Para nós seria abandonar a nossa Mãe que adorava a sua casa e estar ao lado de seus filhos solteiros que moraram e ficaram com ela até o último momento e não nos arrependemos, apesar de muitas críticas recebidas.

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    • RICARDO dos Santos
      RICARDO dos Santos says:

      Também tenho esta opinião, temos que evitar ao máximo de colocar nossos Pais idosos queridos em casas de repouso, cuidaram da gente, é um prazer cuidar deles na velhice, é claro que cada caso é um caso, mas precisamos priorizar o convívio em família.

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  4. Marise Cristina Cardoso de Mattos
    Marise Cristina Cardoso de Mattos says:

    Infelizmente, muitas pessoas ainda estão apegadas à ideia que que colocar o idoso em uma casa de repouso enseja um abandono. Até se depararem com um parente com Alzheimer. Minha mãe tem 4 cuidadores, mas não conseguimos que todos prestem o trabalho com a mesma excelência. E realmente, quando um deles falta é uma correria porque temos que deixar nossos compromissos profissionais para socorrê-la. Infelizmente, minha mãe não é mais minha mãe. Ela voltou a ser criança. Não consegue mais controlar suas necessidades fisiológicas, tem crises de choro horríveis, fica agressiva e mal nos reconhece. Não reconhece mais a sua casa. Será que dar a ela uma oportunidade de ser cuidada por profissionais que conhecem a doença bem mais do que nós, conviver com pessoas como ela em um ambiente controlado e voltado às suas necessidades é tão ruim assim? Não julguem, por favor! Uma pessoa que envelhece e permanece lúcida é totalmente diferente. O Alzheimer é uma morte em vida.

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    • Marlene Bernardi
      Marlene Bernardi says:

      Dúvida cruel. Ninguém quer ser o filho que abandona os pais na velhice. Mas procurar tratamentos médicos e de enfermagem específicos entendo agora que faz parte do cuidar, e este cuidado é melhor realizado numa clínica. Sim, achando um local adequado é uma boa solução para os cuidados que um paciente portador de Mal de Alzheimer precisa. Envelhecer com Alzheimer não é envelhecer, é morrer em vida. É uma doença horrorosa, cada um tem o seu próprio Alzheimer, que envolve além das mudanças de humor, a ausência total de sono, o idoso ficar acordado dias e dias e a privação do sono acelerando outros sintomas, como a agressividade. A privação de sono para mim também fazendo enormes estragos, imagine ficar dias e noites sem dormir, não conseguir sentar pra tomar um café, uma água, por conta da perambulação, enfim. Cuidador dentro de uma casa pequena é um estorvo, pq sim, é um estranho privando de nossa intimidade. Creio que achando a clínica adequada, é mais humano para ambas as partes, porque não se compara o cuidado com um bebê aos cuidados com um doente de Alzheimer.

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  5. Fernanda
    Fernanda says:

    A decisão de institucionalizar um pai ou mãe idoso é bastante difícil e dolorosa o que faz muitas famílias optarem por um cuidador. Tais cuidadores são muitas vezes contratados de forma informal recebendo na maioria das vezes apenas o salário mensal devido aos elevados custos de se registrar um empregado doméstico e cumprir com todas as verbas trabalhistas previstas pela legislação. Tal fato pode acarretar em sérios problemas com a Justiça do Trabalho caso o cuidador venha a entrar com uma reclamação trabalhista. Até mesmo quando o contratante é o próprio idoso que já debilitado e dependente unicamente da aposentadoria que lhe serve para suprir suas necessidades básicas, tem de arcar com processos trabalhistas que em sua grande maioria atinge valores exorbitantes, tirando o sossego das famílias e gerando ainda mais sofrimento. Penso que nesses casos em que não é possível a contratação formal de um cuidador e a familia não pode mudar a rotina para assistir o idoso em todas suas necessidades, a institucionalização em uma casa de repouso idônea seja o melhor caminho.

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  6. Janete
    Janete says:

    Também penso na qualidade de vida dos idosos, ainda mais dos meus pais, e de querer ficar com eles em casa parece fácil quando o assunto é vc querer (os filhos), e quando eles não aceitam sua ajuda e ficam completamente sem noção das limitações, alegando estarem bens e que não estão loucos, e que estamos querendo o mal deles, que a ideia de morar com vc é porque os julgam incapazes, minha mãe está completamente irada, nervosa, agressiva, muda o comportamento a cada minuto, querer fazer ela entender que seria melhor morar comigo se ela não tem noção do que é melhor, ela não aceita a ajuda dos filhos, de cuidadores então pioro, não deixa ninguém entrar na casa dela com essa finalidade, e morar com os filhos parece algo absurdo, estamos tentando por meios de entendimento, sabendo que sabemos que ela não tem, conversamos mesmo sabendo que ela não conversa direito e nem sabe que está com problemas de memória, se comentamos o que percebemos e pedimos pra que deixe ajuda-la, não aceita e xinga e se torna agressiva porque estamos querendo o mal dela, então pessoal…existem casos….cada um cada um…pois nesse caso precisamos tomar atitudes que nem queremos, seria muito fácil pedir a minha mãe….venha morar comigo, já está na idade de que eu possa fazer o que fez por mim quando era criança….ela não aceita….está doente não só fisicamente, mas o mentalmente que faz a diferença disso tudo…não só 4 cuidadores….5 cuidadores….ela não aceita nenhum….e nem os próprios filhos….ela se julga alto suficiente…quando se quer ser ajudada tudo é mais fácil….tem idosos que querem os filhos por perto….outros querem e ate aceitam de boa casas de repouso, uma mudança no nome que se faz a diferença hoje em dia, por não usar o nome tão ruim como asilo…. então eu estou esperando o que for melhor…e ainda que existem profissionais hoje em dia que não sejam tão racionais….e sim profissionais da saúde e do Amor…muito bom saber que eles conciliam tudo isso em uma casa de repouso….é isso.

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  7. Lorena
    Lorena says:

    Tive que colocar a minha mãe em uma casa de repouso . Moro fora do Brasil e depois de anos lidando com cuidadores cheguei a conclusão que sem supervisão e qualificação fica muito difícil manter uma estrutura assim. Como a minha mae tem um quadro demencial e outras doenças precisa de cuidados especializados. A mão de obra é cara e infelizmente a lei brasileira é péssima em relação aos cuidadores. O Brasil terá que mudar a postura em relação a casas de repouso pois as pessoas estão vivendo mais e os quadros demenciais estão aumentando. Cuidar desses idosos em casa é um grande desafio.As casas não tem estrutura e muito menos as pessoas conhecimento. Se a minha mãe estivesse bem mentalmente seria muito mais fácil ,mas não é o caso . Temos que começar a pensar em qualidade de vida não somente para o idoso mas também para os familiares que assumem as responsabilidades e cuidados.

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